quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A dificuldade de escrever uma letra

Foram várias as vezes que me lamentei por andar criativamente estéril, e foram várias as desculpas que arranjei para justificar a minha falta de ideias. Após vários meses de paragem aqui no blogue, o discurso volta a ser o mesmo. Se bem que não me posso queixar de todo. Isto porque têm aparecido algumas músicas nos últimos meses, umas que são aproveitadas, outras que entretanto já foram esquecidas. No entanto, regra geral, surgem sempre mais melodias que letras. As melodias saem-me quase de forma natural, o conjugar de sons não constitui um desafio demasiado complexo. Agora quando chega a hora de escrever uma letra, as dificuldades surgem.

Eu sempre gostei de escrever sobre personagens fictícias. Criar uma pequena história contada nalgumas estrofes, onde se mistura realidade com ficção. Digo isto porque, por mais que me tente afastar das minhas vivências enquanto escrevo, estas acabam sempre por servir de inspiração. No entanto evito que eu seja a personagem principal. A escrita é muito influenciada por momentos, por situações que estão mais frescas na memória. Escrever exclusivamente sobre mim acaba por tornar a canção efémera, além de que quando tentei escrever sobre mim a coisa não deu bom resultado, porque o que surge quase de imediato nos versos são os problemas por resolver, os defeitos, os amores e desamores. E essa é uma linha de pensamento que não me agrada de todo. Para a evitar comecei a pensar ao contrário, imaginar situações absurdas, criar personagens desconhecidas e mosaicos segundo aquilo que observava no dia a dia. Há sempre um pouco de mim nestas histórias, mas sempre privilegiando a ficção. Há alguns meses que encontro muitas dificuldades em pôr este plano em prática. As letras parecem ser algo repetitivas, os problemas abordados são sempre os mesmos. Ou é algo sobre a crise, ou sobre alguém que está longe, ou sobre indefinição de futuro... Enfim, vai tudo dar ao saco dos problemas pessoais. Exactamente aquilo sobre o qual não gosto de escrever.

Preciso de algo que me desbloqueie criativamente. Por exemplo, preciso de ver um filme que me dê uma mão cheia de ideias, onde consiga tirar ideias para uma personagem ou um ambiente para uma pequena história. Não um filme para plagiar, mas sim um filme para me dar um empurrão ou um murro no estômago, ou ambos. Reza a lenda (não é uma lenda, acaba até por ser bem real, mas quando se fala em "lendas" tudo ganha uma nova dimensão), que em meados da década de 60, Milton Nascimento conheceu Márcio Borges em Belo Horizonte, onde ser tornaram grandes amigos. Na altura Milton era dactilógrafo e tinha uma pequena banda da noite chamada Berimbau Trio. Márcio Borges acabou por ser um dos principais responsáveis pela formação de Milton Nascimento como músico e compositor. Certa noite, Milton e Márcio juntaram-se a ver Jules et Jim, filme de François Truffaut (diz-se que o viram umas 3 vezes de seguida). Nessa mesma noite surgiram 3 músicas: "Crença", "Gira-Girou" e "Paz do Amor que Vem (Novena)". Desde esse dia, a vida de Milton Nascimento nunca mais foi a mesma...

Em suma, também eu preciso do meu Jules et Jim neste momento (o filme é brilhante, mas não me deu para compor 3 músicas de seguida). Também eu preciso de encontrar uma fonte de inspiração que me leve a escrever sobre algo novo. O índice de leitura e pesquisa sobre diversos temas até tem sido maior do que no passado. Falta mesmo ligar o interruptor.

Fica então "Crença", resultado da reunião de Márcio e Milton pós Jules et Jim.


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