domingo, 9 de janeiro de 2011

Soul e Crítica Social


A crítica político-social ainda não é tema dos poemas que vou escrevendo, basicamente porque ainda não tenho capacidade para o fazer. A escrita com estas características exige uma mensagem forte e que mexa com quem a ouve, mas ao mesmo tempo não sendo demasiado directa, mascarando aquilo que queremos dizer numa metáfora. E mesmo se quisermos escrever a verdade nua e crua, é preciso que exista beleza no nosso discurso. Isto para quem não é um bom poeta é, e permitam-me a expressão, muito fodido. No entanto, e esta é uma teoria que defendo, acho que se existirem limitações e regras para um certo tema que escolhemos para um poema a nossa capacidade de dar a volta por cima torna-se mais apurada, quase como uma espécie de instinto de sobrevivência. Um exemplo disto são os regimes ditatoriais e de censura que proliferaram um pouco por todo o Mundo durante o séc XX. Falando da música escrita em português, é crónico dizer que as metáforas de Zeca Afonso que descrevem a situação política de Portugal na altura são brilhantes. Além de ser bom poeta, a censura fez com que a sua criatividade fosse "espicaçada". Sérgio Godinho e José Mário Branco são outros exemplos de grandes poetas que escondiam a sua mensagem em grandes letras. No Brasil a ditadura também reinou, e à conta disso Chico Buarque escreveu das melhores letras que alguma vez li.

Mas num país onde a liberdade é a sua bandeira, a critica social e política não deixa de ser uma constante. A mensagem não precisa de ser escondida, está lá crua e à vista de todos. Mas a escrita não deixa de ser bela e intensa. Gil Scott-Heron (um dos meus músicos favoritos) é especialista nisto. Numa América onde o racismo e a pobreza existem, Gil Scott-Heron pinta nas suas letras um quadro de tristeza e revolta social. Críticas fortes a uma sociedade que se diz ser evoluída mas que ainda hoje continua a descriminar fortemente as minorias raciais (discriminação essa que foi mais acentuada e fortemente combatida durante as décadas de 60 e 70). Depois encaixa todos os seus poemas num misto de soul, jazz e rap, estilos tipicamente afro-americanos e que reforçam a mensagem (a soul e o jazz fascinam-me imenso por serem estilos que nos levam a um sentimento de introspecção, dada a carga emocional que por vezes carregam). Existirão muitos outros poetas afro-americanos que escrevem magnificamente sobre este tema e que eu nem conheço (aceitam-se sugestões de nomes para eu explorar). Mas deste conheço a sua obra relativamente bem... e gosto.

1 comentário:

  1. meu caro amigo, já a imenso tempo que não vens dar o ar da tua graça. deixa la andar a coça-los e vem mas é escrever qualquer coisa pa malta ler.
    Um abraço do teu amigo madeiras

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