domingo, 10 de outubro de 2010

"Texto sobre chuva escrito em tempo seco"


Por vezes quando estou a ouvir música à noite começo a improvisar textos. Este é um resultado de um recente devaneio. Não acho sinceramente que estes textos de improviso sejam bons, mas acredito que possam ser um bom teste à minha capacidade de criar.


Olho através da janela e vejo a chuva a cair, e a ensopar toda a estrada. Esta embate com força nos vidros, fazendo um sincopado quase perfeito.

Na rua, a luz do candeeiro público ilumina o asfalto molhado. Este brilha de uma forma especial, formando uma espécie de arco-íris a cada onda que se ergue quando um carro passa numa poça mais funda. As luzes e cores dos carros querem seguir o ritmo da chuva, e a peça é composta aos poucos.

São poucas as pessoas que correm na rua. A maioria caminha a passo largo é certo, mas não deixa de aproveitar esta maravilha da natureza. Por vezes param, e sentem as gotas a bater-lhes no rosto. A natureza envolve-as num abraço frio mas intenso, mesmo estando numa cidade suja e preocupada. Relembram-se que são humanas, que têm um determinado espaço, um determinado tempo, que devem gerir. Infelicidade significa má gestão, plenitude significa perfeição. Recordam-se então que esta não existe. No meio de todo este nervosismo e desta rotina pútrida, evitam pensar na morte. "Que ingénuas", penso eu.

A chuva vai limpando as más memórias desta cidade. Escorre tudo para uma fossa, que me impede de ver a continuidade do processo. No entanto, sei que tudo ficou bem limpo.

É bom sentir a chuva a embalar as nossas ideias.

6 comentários:

  1. Era fixe que passo não fosse confundido com paço..

    Merda de hábitos de ex-professor..

    :P

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  2. Tens razão, e eu que tinha olhado para aquilo e deixei passar.

    Correcção feita, que não gosto de dar erros.

    Abraço

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  3. Gostei demais =D

    Serve muito pra mim hoje, pois onde moro está chovendo muito.

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