sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Ataraxia Criativa


A ataraxia é um estado de espírito no mínimo horrível. Se no passado Ricardo Reis conseguia evocar esta emoção de uma forma bela e rendilhada, eu sinto que ser atacado por um estado de dormência (neste caso, criativa) não tem nada de cativante. Faz hoje precisamente um mês desde a minha última publicação aqui no blog. As férias deixaram-me num vazio de criatividade e de vontade de escrever, o que é relativamente grave quando se tem alguns projectos a curto prazo a serem desenvolvidos. Não foi por falta de momentos interessantes nem por falta de tempo que a vontade de criar não surgir ao fim deste tempo todo, simplesmente deixou-se ficar no seu canto a descansar um pouco (quero eu acreditar). A ataraxia tomou o seu lugar e deixou qualquer melodia feita desprovida de sentimento. O melhor por agora será gravar aquilo que falta ser gravado para que o próximo passo possa surgir naturalmente.

É estranho não ter um rasgo criativo há algum tempo com a quantidade de material audiovisual que me tem aparecido à frente e que me tem deixado apaixonado. Vi o "Black Swan" (imagem do início), do Darren Aronofsky, estas férias (já tinha falado sobre o filme há alguns posts atrás), e fiquei deveras impressionado e deliciado. Para mim o filme roça a perfeição. Vai crescendo de intensidade a cada cena, a cada diálogo, e termina de uma forma absolutamente arrebatadora, final esse que me deixou num estado de catarse doentia. Uma descarga de adrenalina e emoções que poucos filmes me concederam. Brilhante! Este filme poderia bem ter sido um desbloqueador de criatividade musical, mas isso não aconteceu. Talvez devido ao facto de se tratar de um filme obscuro e paranóico, algo sobre o qual não costumo escrever. Iluminou-me noutros aspectos, por esta razão considero-o um dos melhores filmes que já vi. Para finalizar, a Natalie Portman revela ser uma actriz brilhante (se poucas dúvidas existiam a este respeito). Quando se tem talento natural para representar, o erro acaba por ser um cenário muito raro.

O obscuro e o macabro tem sido, curiosamente, uma temática que tem ocupado as minhas audições. Já muitas vezes ouvi o álbum "Muller No Hotel Hessischer Hof" dos Mão Morta. Os poemas são do dramaturgo alemão Heiner Muller, poemas esses absolutamente macabros e carregados de horror. Contudo, o álbum é uma obra prima da música portuguesa na minha opinião. E não me tenho cansado de o ouvir e de descobrir nas suas letras morais muito interessantes. Fica aqui o vídeo "Floresta Em Sonho". Amanhã logo escrevo mais, espero eu...

Sem comentários:

Enviar um comentário