sábado, 27 de novembro de 2010

Palavras


Podia achar que era o mais forte, mas não sou. Aliás, refugio-me em páginas em branco, e nelas liberto palavras que juntas partilham poucas afinidades. É o que dá não as saber conjugar nas alturas mais importantes. Se elas dentro de mim não se conhecem, cá fora, no mundo real, pouco o nada conseguem expressar.

No entanto todas as palavras me confidenciam algo em comum: falar é mais difícil que escrever. Já as ouvi cochichar umas com as outras sobre este assunto. Fazem sempre cara feia quando saem pela boca e não pela caneta. Parece que não saem confiantes, e depois até chegam a ganhar novos sentidos, só para me fazerem sentir mal e deixar de falar. Já tive grandes discussões com certas palavras. Treino-as tantas vezes no aconchego da solidão, às escuras, para que tudo saia bem na hora exacta... Oh, mas para quê? São preguiçosas como tudo e só me fazem passar vergonhas.

Por isso é que comecei a expressar-me exclusivamente em folhas de papel. Aqui as palavras podem aparecer e desaparecer num segundo, basta riscá-las. No papel elas não sentem dor quando morrem. Mas as palavras que permanecem intactas no papel duram eternamente. As que saem pela boca já não, só as especiais é que têm esse privilégio de permanecer para a eternidade. Apenas algumas têm esse estatuto, e chegam por vezes a durar mais tempo que as escritas em papel.

Apesar de tudo, é bom saber que posso contar com as palavras quando estou só. É bom saber que estas me ajudam a projectar sentimentos e raciocínios. É bom saber que elas afinal até gostam de mim. É bom saber que posso amar com a sua ajuda. Mesmo que por vezes estas me possam trair...


25/11/2010


1 comentário:


  1. Por isso é que comecei a expressar-me exclusivamente em folhas de papel. Aqui as palavras podem aparecer e desaparecer num segundo, basta riscá-las.


    Acho que este texto diz sobre os "escritores amadores". Muito bom.

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