sexta-feira, 3 de setembro de 2010

"O Barco"


Há coisa de uns meses atrás fiz duas músicas sobre viagens solitárias. Este é o tema central do filme "O Lado Selvagem". Não posso no entanto dizer que me foquei exclusivamente no filme para escrever estas letras. Uma viagem destas é possivelmente o sonho de muitos, uma experiência que enriqueceria qualquer um de nós.

A primeira música, a que dei o nome de "Viagem - ida", relata um pouco as expectativas do sujeito poético quanto à sua viagem. A necessidade de estar longe de tudo e de todos, a percepção de que o caminho que pretendia seguir era seguro e a busca intensa pela sua identidade levavam a que o sujeito poético seguisse viagem. Este não pretendia que ninguém o procurasse, pois nem ele mesmo se tinha encontrado.

Na segunda música, "Viagem - volta", todas as crenças do sujeito poético foram abaladas. O medo de que o seu afastamento possa ter afectado aqueles que o amam leva a que este antecipe o seu regresso. A necessidade de estar com alguém sobrepõe-se à rotina da solidão.

No entanto estas duas músicas nunca atingiram aquilo que eu pretendia. A nível melódico não estão más, mas a conjugação com a letra não atingiu a força que era necessária. É bem provável que estas músicas permaneçam na gaveta.

Hoje a situação deste tema mudou. Tinha uma melodia muito simples e precisava de escrever uma letra. A melodia fazia-me lembrar o mar, não sei porque razão, e fiquei sempre com a ideia de que a letra deveria ter referências sobre o tópico. Surgiu então a letra "O Barco", a descrição de uma viagem perigosa de um indivíduo pelo oceano. Arriscando a sua vida, embarca numa viagem solitária num pequeno barco, em busca não se sabe bem do quê (o que é, na verdade, a busca que todos nós fazemos ao longo das nossas vidas).

Fiquei muito satisfeito com a letra, porque não tinha nenhumas expectativas de a conseguir escrever hoje, e por outro lado, porque transmite exactamente aquilo que pretendia. É uma letra que não revela a sua motivação directamente nas palavras, podendo ser interpretada de diferentes maneiras, o que a distingue das outras letras que tinha sobre viagens. Agora o próximo passo é gravá-la (esta não tenho dúvidas que será só voz e guitarra).

O Barco

Destruindo dias maus,
Ele vai seguindo são.
No seu barco cruza as naus
Que deixaram a nação.
Navegar sozinho é normal
Quando a rota pode ser fatal.

Com a vela remendada
E o casco já quebrado
Sobre a viagem não ensaiada
Ele nunca terá questionado
O sucesso da embarcação,
O oceano e sua dimensão.

Cresce uma nuvem cinzenta
Que anuncia tempestade.
Sem ter medo, o barco enfrenta
O momento da verdade.
E chegado à luz ele sorriu
Com a beleza do que viu.

Navegar sozinho é normal
Quando a rota pode ser fatal.

02/09/2010

Sem comentários:

Enviar um comentário