domingo, 29 de agosto de 2010

Desabafo pouco explícito mas lúcido

Em pausa nas gravações devido às condições climatéricas adversas, tenho posto em causa muita coisa que de há uns tempos para cá tem sido regra na nossa sociedade.

Ontem fui ver um concerto de Rui Veloso. Há já algum tempo que não tinha o prazer de ver ao vivo aquele que é, muito provavelmente, o melhor músico português dos últimos anos. Com músicas que não ficam gastas com o passar dos anos, milhares de pessoas aplaudiam "pai do rock português" como sempre o fizeram ao longo dos tempos. Por mais que alguém quisesse crescer sem ter de ouvir Rui Veloso, provavelmente saberia a letra de "A Paixão" de cor... e de outras 5 ou 6 músicas. Resumindo, Rui Veloso é o maior, e continuará a ser por muitos anos.

O tema do debate que surgiu entre amigos depois do concerto era inevitável: haverá hoje em dia um músico português que possa atingir o mesmo nível? A resposta é não. Actualmente os músicos que têm surgido na nossa praça têm de ter algo de diferente, por vezes absurdo, para que sejam aclamados pelas rádios e revistas entendidas. Os músicos que hoje em dia fazem parte do clube da nova música portuguesa procuram a diferença na sua obra. Alguns conseguem chegar a esta com alguma qualidade, outros atingem o ridículo. Andam por aí músicos tão medianos, alguns até maus, a serem comparados a génios e eu não consigo compreender porquê. Para muitos destes músicos está prevista uma curta mas efusiva passagem pelo mundo da fama (o que por um lado não deixa de ser mau). Tenho pena que se hoje aparecesse um novo músico de nome Rui Veloso a cantar "Não Há Estrelas no Céu", provavelmente cuspiam-lhe em cima e a música só passaria na Rádio Fóia...

Mas esta onda de "ser diferente" é comum a muita gente. Nas redes sociais encontramos centenas de pessoas que desejam aparecer, mostrar aquilo que fazem, serem diferentes, serem intelectuais, serem superiores a uma sociedade portuguesa decadente e envolta nos seus problemas crónicos. Adolescentes, muitos deles mais novos que eu, que partilham os seus amores e desamores em textos profundos, que citam Nietzche para se revoltarem com algo, que escrevem romances, que são jornalistas, pintores, músicos, filósofos, fotógrafos, cinéfilos admiradores de Fellini. Penso nos meus 16 anos e como tudo era diferente, comparado com estes jovens de hoje eu era um simples vegetal que gostava de banda desenhada.

Também eu tenho um blog, também eu tento ser músico, tento ser superior a muitos nalguns aspectos e também eu procuro o meu lugar neste mundo de afirmações. Partilho com os outros aquilo que gosto como tantos outros fazem. Mas não chego ao ponto ridículo de tantos pseudo-humoristas ou raparigas deprimidas com os seus romances. A geração do secundário destes dias é bem diferente da minha, apesar de não terem passado assim tantos anos. E esta justifica a quantidade de "músicos" que são aceites como sendo grandes músicos ou a quantidade de humor nonsense que é considerado genial. No entanto, verdade seja dita: também andam por aí alguns jovens de talento e gente que escreve muito bem, é questão de se procurar.

Em suma, peço desculpa por este meu desabafo e por todas estas ideias desconexas, mas tenho andado a ler muita merda na Internet.

4 comentários:

  1. Sem querer estar a bater na mesma tecla, procura por "Hipster". Também descobri a palavra há pouco tempo, mas define esta cena meio-idefinida de alternativismo crónico. ;-)

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  2. Ah e o concerto foi brutal, como se esperava!
    Para além da montra de guitarredo topo de gama e das exibições dos músicos do resto da banda, o gajo está mais do que em forma.

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  3. É exactamente isso: Hipster. Cá em Portugal anda muito disso...

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  4. Para acrescentar ao início desse desabafo: não só os músicos têm de fazer diferente para ser reconhecidos, como, mesmo apesar dessa diferença, as rádios não apostam neles.

    Estamos numa altura em que começam a surgir bandas muito boas que fazem a ponte entre duas coisas distintas: o rock e a música popular, ou pelo menos vão buscar traços populares para muita da sua música. Músicos que escrevem grandes canções. No entanto, dessas bandas por enquanto só deves ouvir para aí Deolinda a passar nas rádios e pouco mais. Mas se aparecer outra treta mais comercial, não tenhas duvidas que passam logo na rádio.

    Quanto ao leres muita merda na Internet, ouvi uma anedota fixe, mas como não quero baixar o nível do blog logo te digo :P

    Abraço

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