terça-feira, 19 de outubro de 2010

"Voar"

Deixo aqui mais um daqueles textos que são escritos ao sabor das ideias, em poucos minutos, e de qualidade duvidosa:


Sinto-me a levitar. É algo de impressionante. Poder voar é um dom demasiado poderoso, e Deus sabia isso. Assim sendo, deixou-o de parte e deu-o a outros animais, alguns deles autênticos parasitas. Um mosquito se não voasse seria presa fácil. Mas eu agora estou a voar

O Homem nunca poderia saber voar. Era como se tivesse um brinquedo caro nas suas mão. Brincava, abusava da brincadeira e partia-o. Depois o desgosto seria enorme. Eu por outro lado, sempre tive cuidado com os meus brinquedos. Cuido deles como se fossem os últimos no Mundo. E assim cuido das minhas asas todos os dias. Dou-lhes brilho, retiro as penas quebradas, exercito-as constantemente, para que possa voar mais longe.

Um dia voei 312 km. Sem parar. Era impressionante poder sentir o vento frio na face, poder ver as pessoas que me olhavam e me invejavam a cada bater de asas. Ao fim de toda essa distância senti que era altura de parar. Repousei numa árvore e bebi um sumo. Contemplei as nuvens que vinham do Norte. Não seria uma boa rota a seguir, mas para Oeste tinha a imensidão do oceano, que com certeza me mataria. A Este o deserto convidava-me a uma aventura sem retorno. A Sul não encontraria nada de novo. Teria mesmo de enfrentar o Norte.

Repousei algumas horas antes da partida. As nuvens estavam negras como grafite, e iam riscando o céu rapidamente. Poderia esperar na árvore que a tempestade passasse, ou podia seguir logo caminho para evitar perder mais tempo. E assim fiz. Cruzei as nuvens a uma velocidade impressionante, como nunca tinha feito. Nesse momento senti-me um humano banal, que abusa do seu brinquedo. O risco de o quebrar invadiu a minha mente e não mais me largou durante a viagem. Felizmente tudo correu bem.

Neste momento estou a voar. Não arrisco como fiz dessa vez no Norte. Tenho medo de perder este dom. Era bom que mais pessoas pudessem ter este prazer de voar. Sinto-me só no céu. Não posso falar com os pássaros nem com os insectos. Não posso falar com as pessoas que estão nos aviões ou nos helicópteros. O céu está povoado, mas não deixo de estar sozinho.

Mas não quero deixar de voar.

6/10/2010

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