sábado, 5 de junho de 2010

Os dias

O nosso mundo e deveras um espaço complexo, o verdadeiro ponto central do pensamento humano. Um tema extremamente complexo para se abordar num post de um blog de relativo interesse. No entanto deixem-me arriscar a falar de uma centésima parte deste tema: o tempo.
Nós Homens organizamos o tempo de uma forma peculiar. Anos, dias, horas, minutos, etc. Num dia, por exemplo, pode acontecer uma infinidade de coisas, ou pode acontecer simplesmente nada. Apesar disto tudo, eu acho que um dia é uma divisão temporal extremamente curta. Não conseguimos explanar todas as nossas capacidades em apenas um dia. Além disso o ser humano encontra-se mecanizado para, ao fim de 12-14h, se sentir cansado e necessitar de dormir. Se os dias fossem maiores, talvez o acto de fazer directas fosse tão banal como o de ver o telejornal. Mas no reverso da medalha, um dia pode mudar o mundo, e são vários os exemplos que temos para esta situação.
O problema chave em tudo isto: a rotina. Rotinar os nosso dias com acções que podem ser boas ou más viciam a nossa identidade. No entanto, para o comum mortal, este vício é o caminho mais fácil para uma vida minimamente tranquila.
Mais ou menos nesta temática, ontem fiz uma música intitulada "Os Dias". A letra foi escrita ao sabor das ideias, espelhando uma certa dualidade naquilo que os dias e as pessoas que neles vivem podem ser. Retratos de pessoas bondosas, injustiçadas, maldosas e inseguras são pintados na letra desta música.
Não sei se com esta letra consegui retratar aquilo que queria (já disse várias vezes que não sou muito talentoso), no entanto a conjugação com a melodia ficou muito interessante. Quando tiver uma gravação com qualidade logo a partilho.
Fica então o poema:

Os Dias

Há dias que colhem as folhas do chão passageiro.
Varrem o lixo, o esquisso de um quadro banal.
Limpam destroços, guardam os esboços
Da nova rua onde passeias, e envenenas um amigo.

Há dias que beijam a tormenta da aurora que vem.
E acolhem, dão esmola, é a escola da vida do bem.
Ouvem desgostos, limpam os rostos,
lacrimejados de dor capital, social, sensitivo-anormal.

Os dias são curtos demais para aquilo que somos,
E sem que nada nos avise, vão nos corrompendo.

Há dias que combatem por causas menos racionais.
Gritam e matam inocentes por quadros efémeros.
Pintam jornais, de sangue diluído
Em ideais que primam o poder da gente mais reles que há.

Há dias que sonham com a morte da morte da vida.
E morrem de inveja daqueles que dela se esqueceram.
Embriagados de medo sujo, que afecta o seu andar
Neste planeta alugado, que é justo e cruel.

Os dias são curtos demais para aquilo que somos,
E sem que nada nos avise, vão nos corrompendo.

04/06/2010


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