domingo, 6 de março de 2011

Uma Forma de "Luta"


Ontem foi dia de mais um Festival da Canção na RTP. Apesar da fraca qualidade das últimas edições, este é um acontecimento que gosto sempre de acompanhar, não só pela carga histórica que este carrega, mas também porque sou um bom apreciador de comédia.

Ontem não foi excepção. Mais um ano de fracas músicas, muitas delas não dá para compreender como foram escolhidas para tão ilustre certame. Parece que, para o Festival da Canção, as músicas presentes a concurso são sempre totalmente diferentes daquilo que se costuma fazer na música portuguesa que se comercializa, e que soa tão bem. Parece que para o Festival da Canção as músicas têm de ter muito mais elementos tradicionais, falar muito mais dos descobrimentos, ou então seguem um outro rumo e têm de ser estupidamente pimbas. Mas no meio de tão fracos concorrentes, um grupo de comediantes destacou-se e tornou-se a notícia central do dia de hoje.

Os Homens da Luta são muito famosos no nosso país. Não digo que sejam influentes, no entanto desfrutam já de um reconhecimento importante na área do humor e da crítica política pouco fundamentada. E a sua vitória ontem é, na minha opinião, a imagem de um povo descontente com tudo aquilo que se passa no nosso país, e que mostra a sua revolta boicotando estes eventos. Já tinha acontecido no passado, no programa "Grandes Portugueses", um boicote do mesmo género com o país a dar a vitória ao ditador que nos governou durante mais de 30 anos. Vencedores muito diferentes é certo, mas uma mesma razão de vitória: o protesto.

A música volta a ser, 40 anos depois, uma arma de intervenção contra aqueles que nos governam. Seja através de letras mais objectivas como os Deolinda fizeram, seja através da sátira dos Homens da Luta. Portugal atravessa uma fase de profundo descontentamento, e é no apoio a estes ícones recentes da cultura que o seu desagrado é demonstrado. Não digo com isto que a música "A Luta é Alegria" seja uma boa música. Nem confesso ser um grande admirador dos Homens da Luta. Mas é a música que fazia falta neste momento. E a Europa vai ver de uma forma mais clara aquilo que sentimos e aquilo que queremos mudar.

Será uma prestação vergonhosa? Não creio muito nisso. Podemos até ter zero pontos, mas para mim será com certeza uma participação histórica.